KING KONGA: A BELA E A FERA DA ERA CAPITALISTA

Marco Aurélio Lucchetti & R. F. Lucchetti

A superprodução King Kong, cuja estreia mundial ocorreu em dezembro de 2005,
custou aproximadamente duzentos milhões de dólares e foi filmada nos estúdios Weta,
nos arredores de Wellington, a capital da Nova Zelândia.
Dirigido pelo neozelandês Peter Jackson – o mesmo realizador da trilogia O Senhor
dos Anéis (The Lord of the Rings, 2001-2003) e do pouco comentado, mas envolvente,
Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, 1994) –, King Kong é uma refilmagem do clássico
filme lançado em 1933 e produzido e dirigido por Merian C. Cooper (Merian Caldwell
Cooper, 1893-1973) & Ernest B. Schoedsack (Ernest Beaumont Schoedsack, 1893-
1979).
Tal como ocorre no original, essa refilmagem, cuja ação se passa na década de 1930,
mostra um grupo de americanos, tendo à frente um cineasta obcecado, Carl Denham

(interpretado por Jack Black), que vai realizar um filme numa ilha perdida no sul do
Pacífico.
Chamada de Ilha da Caveira, essa ilha é habitat de um gigantesco gorila, Kong, que,
da mesma forma que o antigo Kong, possui a capacidade do afeto, apesar de sua
extrema violência e agressividade.
Na verdade, há uma explicação para Kong ser tão violento: ele é o último de sua
espécie e tem de lutar todos os dias – usando de toda sua força bruta – por sua
sobrevivência, enfrentando os ferozes dinossauros que infestam a Ilha da Caveira.
E o afeto de Kong é dirigido a Ann Darrow, uma jovem atriz desempregada.
Ann foi interpretada por Naomi Watts [ela já havia demonstrado todo seu talento
como atriz em Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001), ao encarnar Betty Elms,
uma personagem cheia de sensualidade], que aceitou prontamente o convite de Peter
Jackson de participar do filme, mesmo sabendo que, muitas vezes, teria a difícil tarefa
de contracenar com o nada, uma vez que a figura de Kong, criada digitalmente, seria
acrescentada depois à cena.

King Kong é, antes de tudo, uma versão moderna do conto de fadas A Bela e a Fera
(La Belle et la Bête, 1756).
Abre um parêntese.

Escrito por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (nascida Marie-Barbe Leprince,
1711-1780), mais conhecida como Madame Leprince de Beaumont, A Bela e a Fera já
foi diversas vezes adaptado para o Cinema. E a melhor e mais bonita dessas adaptações
é, sem dúvida, a que o poeta romancista e cineasta francês Jean Cocteau (Jean Maurice
Eugène Clément Cocteau, 1889-1963) realizou em 1946, tendo Jean Marais (1913-
1998) e Josette Day (1914-1978) nos principais papéis.
Fecha o parêntese.

Porém, ao contrário do que ocorre no conto de fadas, o filme de Peter Jackson não
tem um final feliz. Ann Darrow, a Bela, não consegue salvar Kong, a Fera. E isso
acontece por uma razão bem simples: Kong foi tirado de seu ambiente natural e levado
para um local muito mais selvagem e cruel do que a própria selva. E que lugar é esse? É
a cidade de Nova York, símbolo máximo da sociedade capitalista, onde o diferente não
é aceito, onde alguns poucos privilegiados ditam as normas para uma imensa maioria de
desfavorecidos, onde tudo aquilo que representa uma ameaça ao stablishment deve ser
destruído.
A seu modo, Kong vivia feliz na Ilha da Caveira. No entanto, ao ser tirado de lá, não
lhe restou outra alternativa, a não ser morrer. E, ao assistir à cena em que ele despenca
do alto do Empire State Building, o espectador que ainda é capaz de emocionar-se deve
sentir vontade de chorar. Alguns, os mais emotivos, talvez até cheguem a derramar una
lágrima, possivelmente furtiva. Mas uma lágrima é sempre uma lágrima. E essa lágrima,
derramada por Kong, o gorila solitário – e, de certa forma, indefeso –, é também
dirigida à Mãe-Natureza, que, está, pouco a pouco, sendo assassinada para atender aos
interesses de alguns “homens” ambiciosos, inescrupulosos e destituídos de qualquer
traço de humanidade.
King Kong (King Kong, Nova Zelândia/Estados Unidos, 2005, 187’)
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh & Philippa Boyens, baseando-se no filme King
Kong (1933)
Fotografia: Andrew Lesnie

Montagem: Jamie Selkirk
Elenco: Naomi Watts (Ann Darrow), Jack Black (Carl Denham), Adrien
Brody (Jack Driscoll), Kyle Chandler (Bruce Baxter), Thomas Kretschmann (capitão
Englehorn), Colin Hanks (Preston), Jamie Bell (Jimmy), Evan Parke (Hayes), Lobo
Chan (Choy), John Sumner (Herb), Craig Hall (Mike)
Marco Aurélio Lucchetti é professor universitário e pesquisador de Cinema,
Quadrinhos e livros populares.
R. F. Lucchetti (Rubens Francisco Lucchetti, 1930-2024) foi ficcionista e roteirista
de Cinema & Quadrinhos.


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